Levantamento realizado pela Farsul mostra que maiores produtores de proteína animal no mundo são também os maiores consumidores
O consumo de proteína animal per capita tem, como principal influência, a capacidade produtiva dos países. Este é o destaque no resultado do estudo realizado pela Farsul sobre o consumo de carnes no mundo. O cenário econômico também tem grande relevância por se tratar de um produto de alto valor no mercado internacional. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (8/6) e consideram o período de 1990 até projeções para 2028, utilizando dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre consumo de bovinos, suínos, ovinos e frango no planeta.
A relação entre produção e consumo de carnes acontece em decorrência do alta oferta do produto no mercado interno dos países produtores. O economista-Chefe da Farsul, Antônio da Luz, usa o Brasil como exemplo. Mesmo tendo renda per capita mais baixa, o país acaba por ser um grande consumidor em virtude do seu rebanho, um dos maiores do mundo. “O Brasil tem renda média inferior ao Chile, Canadá, Reino Unido, Coréia do Sul ou Noruega e, mesmo assim, nós consumimos bem mais carne do que esses países. E isso acontece porque nós somos produtores. Poque, neste caso, mesmo você sendo mais pobre, há tanta disponibilidade interna de carne que acaba sendo barata e logo pode ser consumida em larga escala”, explica.
Isso ocorre porque a diferença de preço entre mercados produtores e compradores é superior a da renda. “Ninguém dúvida que na Suíça as pessoas tenham muito mais dinheiro, mas a diferença da renda delas para a nossa é menor que a diferença do preço da carne deles para a nossa. Então, o aprendizado número um é que grandes consumidores são, em geral, grandes produtores. Esses países que produzem carne para exportar são também os que mais consomem internamente. Porque a larga produção aumenta a disponibilidade interna”, afirma.
A relação entre o consumo de carne e o cenário econômico também foi demonstrada no levantamento. Para Luz, três momentos durante o período analisado evidenciam isso. “O primeiro é a queda do muro de Berlim. Porque no momento que ruiu o mundo socialista, nós tivemos a emergência do consumo por conta do aumento da renda e do crescimento econômico da China, do Vietnã e da Rússia” avalia. O economista destaca que durante o período da União Soviética, a Rússia não aparecia na relação dos principais consumidores de carne no mundo, hoje está na frente do Reino Unido e Coréia do Sul, por exemplo.
Mas, o cenário econômico também influenciou na queda do consumo. O período de crises que aconteceram no final dos anos 1990 refletiram em números médios menores, como aponta a pesquisa. “Nós tivemos várias crises. Em particular, não só da Rússia, mas também dos Tigres Asiáticos, ali, naqueles anos e nós vemos uma certa estagnação nas taxas de crescimento do consumo. Em muitos países, inclusive, uma redução do consumo, temporária é verdade, mas ela aconteceu”, comenta e completa “O mesmo aconteceu com a crise de 2008. Nós vemos claramente que em 2008, 2009 e 2010 muitos países retrocedem o seu consumo por conta da crise. Ou seja, quando a economia cresce, expande, o consumo de carnes cresce e expande, quando ela contrai, o consumo de carnes também, porque ambos estão extremamente ligados”.
O Brasil também é usado como exemplo pelo economista. A estabilidade econômica conquistado com o Plano Real garantiu um aumento no consumo per capita brasileiro que praticamente dobrou. No início da série, o consumo médio era de 10 kg por ano. Em 2019 foi de 19,6 kg. “Quando nós estabilizamos a economia brasileira, dobramos o consumo de carnes. Justamente pela possibilidade das pessoas acessaram mais proteína animal que é um produto caro em qualquer lugar do mundo. Com uma alta inflação fica muito difícil conseguirmos ter esse alto consumo. O Brasil abandonou tempos sombrios de inflação e passou a conviver com estabilidade, com moeda forte e isso foi também muito importante para o consumo de carne”, conclui.