Dados fazem parte do programa Campo Futuro no estado
Na última década, os custos operacionais totais das principais culturas do Rio Grande do Sul registraram aumento superior a 150%. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (3/9) pelo Sistema Farsul. O levantamento faz parte do programa Campo Futuro, uma iniciativa da CNA, Esalq/Cepea e Sistema Farsul, que completa dez anos em 2020. O trabalho acompanha a evolução dos custos de produção em regiões que são referência na produção agrícola.
É o caso de Uruguaiana, uma das praças analisadas para o arroz irrigado. Nos últimos dez anos, os custos subiram 159%. Em Carazinho, a alta para o milho foi de 157%, soja 178% e trigo 73%, única cultura que não ultrapassou os 100% de alta no período. Para o economista do Sistema Farsul, Ruy Silveira Neto, responsável pelo estudo no estado, o movimento de alta irá se manter. “Estamos trabalhando com taxas médias de 10% ao ano e acreditamos que irá se manter”, avalia.
Na última safra, a lavoura arrozeira teve um incremento de 28% na produtividade e 38% no preço (baseado nos valores praticados durante a realização do levantamento). O melhor resultado da história do programa para a cultura. Já o Custo Operacional Total (COT) aumentou 11%, tendo a irrigação (25%) e o beneficiamento (68%), como principais influências.
Como houve um crescimento de 78% na receita, foi possível cobrir o COT depois de dois anos consecutivos de margens brutas negativas. Considerando o Custo Total, que incluem os juros de investimentos, houve resultado positivo após cinco anos seguidos de prejuízo.
O milho apresentou queda de 32% na produtividade na safra 2019/2020. Especialmente em decorrência da seca que atingiu o Rio Grande do Sul no último verão. Sendo o terceiro pior resultado na série histórica do programa Campo Futuro. Em contrapartida, os preços cresceram 25% no período.
O expressivo aumento de 256% no custo com seguros em razão da estiagem e de 16% com fertilizantes fizeram o COT do grão aumentar 3%. Como o aumento do preço foi inferior a queda da produtividade e os custos aumentaram, a margem bruta foi muito baixa.
A seca também afetou a produtividade da soja, sendo a terceira pior registrada pelo levantamento em dez anos, caindo 23%. Já os preços compensaram a queda de rendimento, com um crescimento de 23%.
No caso da oleaginosa, houve queda no COT de 11% nas lavouras que utilizam tecnologia RR e 8% nas com Intacta devido a queda de 50% e 30%, respectivamente, nos custos das sementes. Como a receita registrou – 5%, para ambas, a margem bruta foi maior que na safra passada. Entretanto, este é o seguindo ano consecutivo que o produtor não consegue cobrir o Custo Total da lavoura.
Única cultura de inverno analisada pelo Campo Futuro no Rio Grande do Sul, o trigo teve alta de 14% na produtividade e 7% no preço. Esta é sua melhor cotação em dez anos de levantamento na região de Carazinho. Fungicidas (-35%) e operações mecânicas (-18%) puxaram a queda de 5% do COT. Mesmo assim, a margem bruta se manteve negativa na safra 19/20.
No caso da soja e milho irrigados, as produtividades caíram 22% e 18%, e os preços cresceram 34% e 40% respectivamente. A redução nos custos de fungicidas e herbicidas impactaram no COT de ambos (soja -7% e milho -9%). Isso ocorreu pela influência do clima seco no combate às pragas das lavouras irrigadas. Com a valorização dos preços acima da queda da produtividade, as culturas tiveram recordes históricos nas suas margens brutas.
Neto explica que com a consolidação do Brasil como o grande fornecedor de commodities no cenário mundial e a alta taxa cambial, o preço no mercado interno se elevou. Isso garantiu, até certo nível, um ganho de margem bruta nas culturas afetadas pela estiagem deste ano. Porém, o câmbio se mantendo elevado e uma inflação de 4,14% no acumulado de 12 meses, conforme o IICP de julho, divulgado pela Farsul, a tendência é que os custos de produção sejam os maiores da história no Rio Grande do Sul na safra 2020/2021.